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A MAGIA DO NATAL NA FLORESTA TERAPÊUTICA: um abraço de amor e a tutela jurídica dos direitos das crianças com TEA

21 dez 2024 às 21h32 | Redação

Por Cristiane Maluf¹1


Na floresta terapêutica de uma clínica para pessoas com TEA…

Imagine uma vasta floresta encantada, com árvores de diferentes alturas e folhas de todas as cores possíveis. Cada árvore representa um profissional que compõe a equipe multidisciplinar em clínicas especializadas no cuidado de pessoas com Transtorno do Espectro Autista. Apesar de parecer, à primeira vista, uma paisagem idílica, essa floresta não é um cenário de mero passeio, mas um ecossistema complexo e indispensável.

Na entrada, encontramos o terapeuta ocupacional, que age como o guia da trilha. Ele ajuda os visitantes (as crianças com TEA) a explorarem os caminhos certos, evitando obstáculos, ensinando-os a escalar pequenos morros e a encontrar ferramentas para navegar na floresta por conta própria. Sem ele, muitos ficariam perdidos entre as árvores, incapazes de encontrar clareiras de autonomia.

Já o psicólogo é o contador de histórias da floresta. Ele escuta as vozes internas de cada visitante e traduz seus sentimentos mais profundos, permitindo que a criança entenda o que sente ao ver o sol atravessando as copas ou ao ouvir o som assustador de uma tempestade que se aproxima. Ele ajuda os outros guias a entenderem melhor os habitantes da floresta.

O fonoaudiólogo pode ser comparado ao pássaro que ensina as crianças a cantar. Ele ensina cada visitante a se comunicar, seja com palavras, gestos ou até mesmo sussurros. É ele quem ajuda a transformar o som confuso da floresta em uma melodia compreensível para todos.

Temos nessa floresta também, o médico e o nutricionista, que são como o sol e a chuva da floresta. Eles não estão sempre visíveis, mas são absolutamente essenciais para manter o ambiente saudável e permitir que tudo floresça. O médico cuida da saúde física e a nutricionista garante que os frutos colhidos ao longo do passeio forneçam a energia necessária para continuar a caminhada.

Não podemos esquecer do assistente social, que é o explorador dos mapas escondidos. Ele ajuda as famílias a compreenderem a floresta mais ampla, apontando os recursos externos, os caminhos burocráticos que precisam ser trilhados e os direitos que muitas vezes estão ocultos sob as folhas.

O pedagogo ou educador especializado é o arquiteto das clareiras, que desenha espaços onde o aprendizado e a descoberta florescem. Ele adapta os desafios da floresta para cada visitante, criando oportunidades para que eles aprendam a interagir e se desenvolver no ambiente ao redor.

O psicomotricista entra como o dançarino das copas das árvores, harmonizando os movimentos das crianças com a paisagem da floresta. Ele ensina como coordenar corpo e mente, ajudando os exploradores a caminharem com mais confiança por terrenos irregulares.

E há também o musicoterapeuta, o tocador de flauta mágica da floresta. Seus sons percorrem os caminhos como notas que acalmam, estimulam e conectam os visitantes com os sentimentos e ritmos que ajudam a trilhar novas formas de expressão.

Enquanto isso, os familiares são como exploradores veteranos que sabem muito sobre a floresta, mas ainda enfrentam dificuldades e surpresas. Eles caminham ao lado das crianças, com passos ora firmes, ora vacilantes, mas sempre esperançosos de que, com a ajuda dos guias, seus filhos encontrarão o próprio caminho.

E o advogado, onde entra? Ele é o guardião das trilhas. No meio dessa floresta, existem cercas invisíveis e placas com regras confusas ou até mesmo interditos injustos que dificultam o acesso às clareiras mais seguras. O advogado é quem luta contra os cercamentos indevidos e descobre passagens escondidas, desbravando terrenos burocráticos e legais para que os habitantes da floresta não sejam barrados por falta de recursos ou por decisões arbitrárias.

Na passagem e observação dessa floresta, é impossível ignorar que cada profissional enfrenta desafios intensos, como tempestades emocionais, deslizamentos comportamentais e armadilhas burocráticas (como a escassez de recursos ou políticas ineficazes). É uma jornada marcada por esforço e resiliência, mas também por pequenas conquistas que iluminam o caminho.

Se a permanência nessa floresta é custosa, isso se deve à riqueza de competências e dedicação de cada árvore, pássaro e guia nessa floresta de cuidado. Um olhar superficial que despreza o esforço envolvido é como um turista desatento, que olha para a copa das árvores sem perceber as raízes que sustentam tudo isso.

Assim, essa floresta não é um parque de diversões, mas um santuário onde cada visitante encontra ferramentas para enfrentar os desafios da vida além da mata. E, quando os caminhos se tornam injustamente inacessíveis, é o advogado quem levanta sua voz, assegurando que as crianças e suas famílias possam continuar caminhando. A verdadeira “infelicidade” é não enxergar isso.

  1. Advogada, especialista em Direito Médico e da Saúde, Direito Civil e Processual Civil, Pós-graduanda em Direito Médico e Hospitalar (PUC/RJ). Membro da Comissão de Direito Médico, Sanitário e Defesa à Saúde da OAB/MS. Professora Universitária e Coordenadora-Adjunta do Curso de Direito da Faculdade Insted. ↩︎

*Publicado em 21 de dezembro de 2024 às 21:32

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